A queda dos preços do vestuário nos últimos 20 anos tem nos permitido comprar cada vez mais roupas. Um dado relevante é o fato que hoje temos 5 vezes mais roupas do que nossos avós. O consumo de moda aumentou 400% nos últimos 20 anos, crescimento causado pelo mercado fast fashion. Os preços baixos com certeza têm um peso grande quando o assunto é o aumento do consumo, mas o que consumidor não sabe é como essas peças são realizadas para chegar a esses preços reduzidos.
Moda que causa diversas consequências em nosso planeta e na vida dos trabalhadores de vestuário. Hoje iremos abordar alguns dos impactos que o Fast Fashion causa, seja no âmbito social, econômico e ambiental.
Fast Fashion: o “monstro” no seu armário.
Tornou-se um desafio usar uma peça de roupa mais de cinco vezes. Problema causado pelo fast fashion e a produção de suas peças sem qualidade a preços baixos e de tendências semanais, fazem com que os consumidores busquem comprar com frequência.
Mas por quê?
1) A qualidade das roupas diminuiu. Para chegar aos preços reduzidos o fast fashion utiliza matéria prima de baixa qualidade e como a produção é focada em resultado (rapidez), essa aceleração da produção resulta em peças costuradas com pouca atenção, baixa qualidade e que gera defeitos e desgastes com mais rapidez.
2) As tendências estão mudando tão rapidamente que não conseguimos acompanhar. Continuamos comprando apenas para nos mantermos atualizados. Culpa da indústria que introduziu o hábito ao consumidor de buscar tendências semanalmente, passamos de 2 coleções ao ano para até 52 anuais.
3) preços baixos geram um consumo por impulso, muitas pessoas acabam por comprar por estar barato e ter medo de perder aquela peça, acabam comprando sem se questionar se aquela peça faz sentido, tem seu estilo e se vai realmente usar, mais conhecido como compra por impulso.”Vou comprar, se não usar pelo menos paguei barato”.
Istoé Fast Fashion: produção em massa de roupas baratas e descartáveis. Inúmeras novas coleções por ano nos fazem sentir constantemente desatualizados e nos incentivam a continuar comprando mais. E obviamente isso trás impactos negativos.
Impactos ambientais do Fast Fashion
A indústria da moda é o segundo maior poluidor do mundo, atrás apenas da indústria do petróleo. E os danos ambientais estão aumentando à medida que a indústria cresce. A moda produz em média 80 bilhões de peças por ano, peças que fazem os números serem assustadores.
Você sabia que 5,2% do descarte nos aterros sanitários são de resíduos têxteis? Um caminhão de resíduos a cada segundo vai parar em aterros.
Sem contar as emissões de gás carbono causado pela moda, mais que todos os voos internacionais e viagens de transporte marítimo juntos, é responsável por 10% da emissão de carbono global.
E mais de 70 milhões de arvores são cortadas todos os anos para fabricação de roupas. Dados impressionantes não é mesmo?
Mas não para por ai, 20% da poluição das águas vem do tratamento e tingimento da indústria têxtil. Na maioria dos países onde as roupas são produzidas, as águas residuais tóxicas não tratadas das fábricas de têxteis são despejadas diretamente nos rios.
As águas residuais contêm substâncias tóxicas como chumbo, mercúrio e arsênico, entre outras. São extremamente prejudiciais à vida aquática e à saúde de milhões de pessoas que vivem nas margens desses rios. A contaminação também atinge o mar e eventualmente se espalha pelo globo.
Outra grande fonte de contaminação da água é o uso de fertilizantes para a produção de algodão, que polui fortemente as águas de escoamento e evaporação.
O consumo de água na indústria da moda
A indústria da moda é uma grande consumidora de água.
Grande quantidade de água doce é utilizada no processo de tingimento e acabamento de todas as nossas roupas. Como referência, pode levar até 200 toneladas de água doce por tonelada de tecido tingido.
Além disso, o algodão precisa de MUITA água para crescer (e aquecer), mas geralmente é cultivado em áreas quentes e secas. São necessários até 20.000 litros de água para produzir apenas 1kg de algodão . Isso gera uma pressão tremenda sobre esse recurso precioso, já escasso , e tem consequências ecológicas dramáticas, como a desertificação do Mar de Aral, onde a produção de algodão escoou totalmente a água.
“85% das necessidades diárias de água de toda a população da Índia seriam supridas pela água usada para o cultivo de algodão no país. 100 milhões de pessoas na Índia não têm acesso à água potável.” diz Stephen Leahy do The Guardian.
Poluição de microfibras da indústria da moda
Cada vez que lavamos uma peça de roupa sintética (poliéster, náilon, etc.), apesar de serem tecidos com durabilidade, cerca de 700.000 microfibras individuais são lançadas na água ao serem lavadas, fazendo o seu caminho para os nossos oceanos.
Os cientistas descobriram que pequenos organismos aquáticos ingerem essas microfibras. Estes são comidos por peixes pequenos que mais tarde são comidos por peixes maiores, introduzindo o plástico na nossa cadeia alimentar.
Um estudo recente também mostra que o uso de fibras sintéticas está liberando microfibras de plástico no ar. De acordo com o estudo, uma pessoa “poderia liberar quase 300 milhões de microfibras de poliéster por ano para o meio ambiente lavando suas roupas e mais de 900 milhões para o ar simplesmente vestindo as roupas”.
As roupas claramente se tornaram descartáveis. Como resultado, geramos cada vez mais resíduos têxteis. Uma família no mundo ocidental joga fora em média 30 kg de roupas por ano. Apenas 15% são reciclados ou doados, e o restante vai direto para aterro ou é incinerado.
As fibras sintéticas, como o poliéster, são fibras plásticas, portanto não biodegradáveis e podem levar até 200 anos para se decompor. As fibras sintéticas são utilizadas em 72% das nossas roupas.
Produtos químicos na Fast Fashion
Os produtos químicos são um dos principais componentes das nossas roupas.
Eles são usados durante a produção de fibras, tingimento, branqueamento e processamento úmido de cada uma de nossas roupas.
O uso pesado de produtos químicos na cultura do algodão está causando doenças e morte prematura entre os produtores de algodão, juntamente com a poluição maciça da água doce e da água do oceano, bem como a degradação do solo.
Impactos sociais do Fast Fashion
Sabemos disso há décadas: a maioria das nossas roupas é feita em países onde os direitos dos trabalhadores são limitados ou inexistentes. Na verdade, os locais de produção estão mudando regularmente de local, em busca de custos de mão de obra cada vez mais baratos.
Muitas vezes ouvimos donos de empresas dizerem que “para esses trabalhadores é melhor do que nada”, “pelo menos damos um emprego a eles”, desculpa utilizada com frequência para explorar a miséria e se aproveitar das populações pobres que não têm escolha a não ser trabalhar por qualquer salário, em quaisquer condições de trabalho .
Sabemos que, se as condições de trabalho melhorarem em um país, as empresas simplesmente se mudarão para outro. Acreditamos que não podemos esperar muito do mundo corporativo ou dos governos se os consumidores não pressionarem por uma mudança.
Muitas marcas de moda garantem a seus clientes que os trabalhadores que fabricam suas roupas recebem “pelo menos o salário mínimo legal”. Mas o que exatamente significa?
Em primeiro lugar, significa que muitas outras marcas nem pagam o salário mínimo legal!
Além disso, na maioria dos países manufatureiros (China, Bangladesh, Índia e até no Brasil), o salário mínimo representa entre meio a um quinto do salário mínimo.
Um salário mínimo representa o mínimo necessário para uma família atender às suas necessidades básicas (alimentação, aluguel, saúde, educação, etc.). Então, em resumo, essas marcas estão se gabando de pagar aos seus funcionários 5 vezes menos do que uma pessoa realmente precisa para viver com dignidade.
Os trabalhadores do setor de confecções muitas vezes são forçados a trabalhar de 14 a 16 horas por dia, 7 dias por semana. Durante a alta temporada, eles podem trabalhar até 2 ou 3 da manhã para cumprir o prazo da marca. Seus salários básicos são tão baixos que eles não podem recusar horas extras – além do fato de que muitos seriam demitidos se se recusassem a trabalhar horas extras. Em alguns casos, as horas extras nem mesmo são pagas.
Você já ouviu falar de escravidão moderna?
Mesmo sendo obviamente ilegal, existem mais pessoas pressas na escravidão hoje que antigamente. Milhões de homens, mulheres e crianças vulneráveis, são escravizados através de tráfico humano e trabalho forçado.
Existem diversas razões pelas quais milhões de pessoas estão presas em trabalhos escravos, decisões políticas, aumento da população a poucas opções e oportunidade para os pobres.
A verdade é que mesmo sem saber o consumidor está colaborando e se beneficiando de trabalho escravo para ter a roupa barata de tendência.
Criminosos enchem seus bolsos de dinheiro, se aproveitando de tráfico de pessoas para trabalho escravo, para que o consumidor tenha cada vez mais roupas, comida e eletrônicos baratos.
Conhece os tipos de escravidão moderna?
- Trabalho infantil – Crianças são forçadas a trabalhar na indústria da moda da confecção a produção de matéria prima para ajudar na renda de suas famílias, mais de 250.000 crianças na maioria meninas trabalham em confecções na Índia.
- Tráfico de pessoas – Consiste em transportar adultos e crianças de um lugar para outro na condição de escravidão, é geralmente realizado através de recrutamento enganoso ou por imposição. O fato de a muitas famílias serem enganadas nesses acordos os fazem cumplices dos crimes e relutantes em denunciar os traficantes. Muitas mulheres e crianças são vendidas por suas famílias com promessas de que poderão trabalhar e viver uma vida fora da pobreza.
- Trabalho forçado e excessivo – quando pessoas são obrigadas a trabalhar através de ameaças e intimidação. Muitas se encontram presas nessa condição e muitas vezes distantes de suas casas e países de origem. Sem contar as cargas horarias abusivas.
- Trabalho em troca de moradia e comida- Muitos imigrantes ilegais que buscam uma vida melhor em outros países acabam por cair na promessa de trabalho em troca de alimento e moradia para sobreviver.
Como acabar com o impacto social relacionado ao Fast Fashion
Existem soluções e alternativas para mitigar esses problemas. O primeiro passo consiste em criar consciência e vontade de mudar e se tornar um consumidor mais consciente.
Leia também: https://www.thirtyseventrend.com/moda-sustentavel-x-moda-consciente/
Ser um consumidor mais exigente é o primeiro passo. Agora que você entendeu um pouco dos impactos causados por essa indústria, vale a pena repensar seu modo de consumo e adotar 5 passos simples para fazer a sua parte!
- Diga não ao Fast Fashion, não compre de marcas que exploram o meio ambiente e os trabalhadores. A melhor forma de ir contra esse sistema é não comprando!
- Substitua quantidade por qualidade, escolha peças que vão durar no seu guarda-roupas, evitando assim que você compre com frequência.
- Apoie marcas de Slow Fashion, compre de pequenos negócios e ajude marcas que produzem no tempo certo, em pequena escala e com mão de obra justa. Aqui na Thirty Seven Trend você encontra diversas marcas slow.
- Não compre por impulso, evite comprar peças que provavelmente não vai usar, saiba identificar quando a compra faz sentindo e se questione, “vou usar mais de 30 vezes?”, “essa peça tem a ver comigo?”.
- Não siga tendências, elas vão te fazer com que você compre peças que terão um ciclo de vida curto de algumas estações, opte por peças mais atemporais e mínimas.
Gostou?, vamos ser consumidores mais conscientes?

THAIS MALULY
Jornalista, redatora e uma canceriana sonhadora. Acredita que viver é desenhar sem borracha! Gosta daquilo que a desafia. O fácil nunca a interessou. Já, obviamente impossível sempre a atraiu e faz de todos os seus recomeços e desafios uma força tangente para seu crescimento. Acredita que a união de pessoas podem e conseguem fazer desse planeta um local muito melhor de se viver. O amor sempre será a resposta!